quarta-feira, 27 de julho de 2011

O Gigante Perdido

- Olha o gigante!

- Lá vem o gigante!

- As cabras! As cabras!

Todo o vilarejo desmoronava em mais um por do sol de terror e morte.

Os passos do gigante não chegavam a estremecer a terra, mas seus urros de insanidade e raiva faziam algo muito pior: crianças choravam paralisadas perdidas nas ruas, homens desesperados arremessavam pedras e lanças toscas em vão, mulheres choravam e corriam tentando salvar o que pudessem. Uma menina jovem de cerca de 16 anos se ofereceu nua ao gigante. Ele pisou nela deixando apenas um braço fino e torto à mostra. Nunca se teve notícia de um gigante maior em maldade.

Além dos ataques que se tornavam cada vez mais recorrentes, o gigante aparecia a cada nova visita com uma nova ferramenta de matar pessoas. Dessa vez ele trazia consigo um machado de proporção grande até para o tamanho dele. Uma lâmina de pedra lascada amarrada com dezenas de metros de corda num tronco de pinheiro da montanha. Sangue seco e escuro, trapos de pano e trapos de pele humana faziam uma decoração grotesca. Um velho tropeçou num cesto caído e o gigante cortou suas duas pernas, ele gritou. O gigante acertou sua cabeça, ele calou.

Ele pisava nos telhados das casas e matava quem estava dentro. Ele pisava em cestos e odres e matava quem estivesse dentro. Um garoto desceu pela corda de um poço, o gigante pegou uma pedra do tamanho quase exato da abertura e largou sobre ele. Outro tentava fugir em um cavalo com sua filha e esposa, mas o gigante tinha boa pontaria e seu machado voou sobre metade do vilarejo antes de despencar nos fugitivos. Ele comia as cabras, comia as pessoas que matava e comia as pessoas que pegava vivas.

Ninguém naquele vilarejo sabia, e nunca soube que, uma comitiva de cavaleiros e mercenários do reino havia caçado aquele gigante e, aquilo que nós diríamos ser sua mãe. Eles foram muito bem pagos, muitos viram, por sua coragem e audácia. Coragem e audácia. Mataram a mãe que estava dormindo numa caverna na montanha que ficava ao norte. Eles nunca tinham visto a criatura, ninguém parece, havia visto. “O filho” chegara depois do assassinato de sua mãe surpreendendo a comitiva de “caçadores”. Teve sua perna furada por homem forte com uma lança, mas esmagou ele contra o chão com seu punho. Depois, desesperado de dor e sofrimento, passou a perseguir cada membro da comitiva com seus pés e, só parou quando todos estavam esmagados contra o solo numa mistura de carne, metal, sangue e ossos.

O gigante dessa história, que ainda está vivo, nunca havia visto um homem antes daquele dia. Conta-se que a caçada foi empreendida, pois uma criatura de grandes proporções havia matado o cavalo favorito do príncipe. Não foi o gigante nem foi sua mãe, é fato. Mas isso não importa mais. A comitiva de cavaleiros foi morta, o castelo foi destruído e praticamente todos que viviam nele também foram mortos, inclusive a família real. Três vilarejos e outra pequena cidade já foram destruídos e seus moradores chacinados. Foi tudo um mal entendido. Mas gigante não quer saber, ele não pára, ele não fala, ele só grita, grita, mata e come. E ele está vindo para cá.

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